Common Treasures: fevereiro 2013

A mentira não tem ninho

Na estrada interminável, a mentira não tem ninho. O que fica depois da partida? A reinvenção do ser, os dias vividos, os actos consumados, a estrada interminável...? O tempo, que não passa nem fica teima em provar que fica o rasto da caminhada iluminado por uma nova luz.

Dizem certas mentes moldadas pelas ideias-feitas politicamente correctas que "se deve julgar sempre o acto e não o homem"... Mas existem actos independentes do seu executor, actos abstractos, sempre inocentes independentemente das consequências? Pois eu não encontro outra coisa para julgar senão o homem e o seu carácter. Todos os actos são o reflexo do carácter, que existe antes e depois do acto. Quando penso naqueles que amo e / ou admiro encontro sempre o mesmo elo comum: o carácter. Não encontrei melhor elogio para escrever na campa do meu pai do que "em memória de um homem de carácter"... e por cima não não coloquei uma cruz mas uma árvore esculpida em granito rosa. Representa o velho carvalho a cuja sombra preferia ter ficado...

Os percalços da traiçoeira tecnologia provocaram a destruição, espero que temporária, do imenso espólio fotográfico do meu irmão. Os fabricantes dos artefactos electrónicos são sempre hiperbólicos no elogio das qualidades quase mágicas dos seus produtos, mas "esquecem-se" de advertir que os seus fantásticos produtos têm "artimanhas" destinadas a criar a dependência exclusiva de uma marca, de um modelo ou que implicam a compra consecutiva de novas versões.

Inocente e desprevenida, a minha filha ligou à televisão Samsung de ecrã gigante os meus dois discos rígidos externos e uma pen. Quando tentei voltar a usá-los não funcionavam em nenhum computador...!!!!!!!! Nessa altura, ainda não sabia que o problema não estava nem nos discos externos nem nos computadores. Recorri a diversos técnicos... ninguém conseguiu descobrir a causa de tal anomalia. Fui à "clínica" da Fnac... também ficaram a olhar como "boi para palácio"! Nem sequer conseguiram abrir os discos... operação que eu acabei por conseguir fazer, embora não tenha conseguido copiar nada para o meu computador... o tempo de cópia indicado para pequenos itens rondava as 40 horas ou mais!!!!!!! Mas como o objectivo é sempre o mesmo - ganhar dinheiro -, propuseram-me de imediato que deixasse os discos para extrair os dados... embora isso implicasse muito provavelmente a destruição dos discos e não havia a certeza absoluta de que fosse possível extrair os dados dos discos... E quanto é que tinha que pagar por esta sucessão de meras possibilidades??? Pasme o cidadão comum e incauto que ainda espera que haja alguma proporcionalidade entre o serviço prestado e a factura a pagar... eu teria de pagar cerca de 1 000 euros para me destruirem os discos sem garantia de recuperação de dados!!!!!!!!!!

Como sou céptica e teimosa por natureza, não aceitei os serviços e continuei a investigar dentro da própria Fnac... eu havia de descobrir por que tinha acontecido aquilo aos meus discos. Não foi fácil, os funcionários são treinados para ocultar a verdade e vender o mais possível. Mas depois de ter passado mais de uma hora em diversos sectores da área de electrónica e depois de ter falado com uma meia dúzia de funcionários, um acabou por ser vencido pela minha perseverança. Perguntou-me qual era a marca da televisão onde tinham sido ligados os discos. Indiquei-lhe a marca e o modelo... O homem não respondeu de imediato... colou os olhos ao chão e disse em voz baixa que eu não era a primeira pessoa a ter problemas desta natureza com este tipo de televisão... Explicou-me depois que estas televisões estão concebidas para formatar automaticamente qualquer dispositivo que se ligue a elas. Para voltar a usar os dispositivos num computador é preciso formatá-los de novo... o que significa apagar todos os dados que contêm...

... E foi assim que perdi o espólio fotográfico do meu irmão e parte do meu!!! Mas como nunca desisto de nada que considere importante e válido, vou continuar a procurar uma solução... só não sei como nem quando irei encontrá-la... mas esta estrada também é longa se bem que não interminável...

Restam-me algumas fotografias do meu irmão no meu computador e nos powerpoints que ilustrei com fotografias dele. A qualidade de algumas das fotografias que se seguem é baixa por isso mesmo, porque não tenho o original, apenas a imagem do powerpoint e outras foram comprimidas para não ocuparem demasiado espaço. Os originais ficaram sempre nos discos rígidos... Este azar veio depois de outro... Cerca de meio ano antes da partida do meu irmão, o carro dele, estacionado na baixa do Porto, foi assaltado. Os rufias levaram um computador, uma máquina fotográfica de qualidade e um saco onde estava a maior parte dos SDcards das máquinas, para além de correspondência e documentos importantes. Nunca conseguiu recuperar nada...